4 de fev. de 2015

Até quando nossas vaginas serão cortadas?

Por: Kalu Brum, em Olhar Mamífero.


Não há maneira mais eficiente de manter uma sociedade alienada do que fazer as mulheres ficarem distraídas com seus próprios corpos. Ou diria, vaginas?

Recentemente vi uma matéria que dizia que as cirurgias plásticas agora entraram no mundo das vaginas.

Se existe um lugar que eu acho que não cabe tesouras e agulhas desnecessárias é a vagina!

Segundo o relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, o Brasil lidera o ranking das labioplastias.

Acredite ou não mas 9.043 brasileiras se submeteram a cirurgia para corrigir o que consideravam imperfeições nos lábios vaginais. O número corresponde a mais de 16% do total de labioplastias no mundo.

Desses procedimentos a grande maioria é por razões meramente estéticas.

Nossas vaginas, há tempos, tem sido infantilizadas. Eu penso que parte dessa infantilização se deu por causa do parto.

Enquanto as partes eram olhadas por mulheres, amparadas por mulheres, os pêlos, estavam lá, para mostrar nossa parte selvagem. Depois se foram os pêlos para que os médicos pudessem fazer uma entrada limpa, infantilizando até no chamado (mãezinha) as partes íntimas. Uma vagina infantil para ser cortada.

Foi nesta época em que a episiotomia ganhou espaço deixando marcas no períneo (na alma, na moral) como castigo por ser mulher e querer parir.

A tricotomia (raspagem dos pêlos vaginais) e a episiotomia (corte do períneo) são práticas corriqueiras em quase 90% dos míseros partos normais que temos no Brasil (48%). Práticas consideradas hoje como parte da gama de violência obstétrica em que 1 a cada 4 mulheres, segundo a Fundação Clóvis Salgado sofrem para terem seus filhos.

Décadas mais tarde a vagina foi então aposentada do divino ato de dar a luz para que as cirurgias, que as brasileiras tanto amam, entrassem em cena.

As cesáreas passaram a ser feitas muitas vezes com a lipoaspiração e plástica abdominal. Fortalecendo o culto alienação através da distração com o próprio umbigo (ou vagina e peitos).

Um estudo publicado na revista Annals of Plastic Surgery sugeriu que entre as mulheres que receberam implantes cosméticos de seio, o índice de suicídio era três vezes maior do que a média. O estudo examina as causas de morte entre 3.257 mulheres suecas que realizaram implantes de seios entre 1965 e 1993.

O estudo tenta provar que as não é o implante nos seios que faz as mulheres se suicidarem. Mas sim as mulheres que fazem a cirurgia possuem transtornos.

A não aceitação de si mesma é, talvez a grande lacuna que o mercado procura usar para manter as mulheres alheias de si mesmas e de seus processos.

Apesar de não ter achado nenhum artigo que diga que os implantes de silicone não atrapalhem a amamentação, minha experiência empírica é outra: conheço muitas mulheres que tiveram muito problema com amamentação devido ao silicone.

Se os seios servem apenas para adoração masculina, agora as mulheres estão querendo padronizar suas vaginas para que fiquem esteticamente perfeitas.

Uma justificativa comum para opção da cesárea é o tal medo da Perereca Frouxa.

Mas quando o bebê nasce ele rasga tudo?

Podem acontecer laceração em caso de saída muito rápida do bebê (meu caso), cicatrizes de episiotomias anteriores, já que é uma região de fibrose e fragilidade dos tecidos, com potencial maior para rupturas.

Aí você pode se perguntar: não seria melhor fazer uma episiotomia para evitar laceração? Você tem 60% de chance de não ter laceração nenhuma e que seu períneo fique íntegro. Ou, se houver lacerações, elas podem cicatrizar melhor do que uma episio.

Quando não há episiotomia no Parto Normal existe a possibilidade de acontecer as lacerações espontâneas de primeiro grau (lesão de pele e mucosa) e mais dificilmente as de segundo grau, (lesão de músculos). As estatística apontam que as lacerações de segundo grau ( semelhantes as episios) tem uma melhor cicatrização e menos dor do que as episios.

E a tal perereca frouxa?

A pereca frouxa tem pouca ligação com o parto e muito mais com a gestação. O peso que o neném exerce no assoalho pélvico, de constituição física e de hábitos que a mulher tenha podem levar a uma perda da musculatura.


Ao invés de mutilarmos nossas vaginas para que fiquem esteticamente bonitas, porque não exercitá-las, usá-las para que tenhamos muito prazer, para que possa exercer sua deliciosa função de se abrir para a chegada de uma criança.

Por que não depilá-la (ou não), permitir que seja lambida, livre. Sem cicatrizes de partos violentos ou ausentes de uso pelo não parto.

Que possamos olhar além de nossas vaginas e lutar pelo que realmente faz sentido: o direito de parir e usar a vagina como a gente bem entender, sem tabus ou mutilações.

Um salve para as vaginas reais e seus lábios de todas as formas. Pelo fim da necessidade de atender esteticamente aos desejos masculinos. Porque a beleza de ser mulher é SER.

FONTE: http://vilamamifera.com/olharmamifero/ate-quando-nossas-vaginas-serao-cortadas/


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